terça-feira, 24 de junho de 2008

Dez Acontecimentos Importantes no Universo das HQs até a primeira metade do Século XX

1) Os Estados Unidos amargavam a depressão econômica, quando uma revista chegou às bancas para revolucionar de vez o universo das Histórias em Quadrinhos. A Action Comics #1 trazia não só a estréia do super-herói mais famoso de todos os tempos, como também o resgate da antiga idealização do herói mítico greco-romano, endeusificado na figura de colant e capa vermelha, como um verdadeiro "salvador da pátria" - o Super-Homem. Em 1938, Jerry Siegel e Joe Shuster resolveram criar um herói praticamente invencível e super-poderoso. Poucos sabem que Siegel e Shuster tinham planos mais escusos para o herói de capa vermelha (era para ele ser um vilão), mas a idéia foi descartada. Melhor para a América do Norte, que viu nascer o seu mais conhecido herói. Após a criação do "Super", outros mascarados entrariam em cena: Batman, em '39, na edição #27 da Detective Comics, por exemplo, também ganhou sua estréia, através de Kane e Finger, que dessa vez apresentavam um herói mais humano e sério. A enxurrada de heróis que viria a seguir classificaria a década de 1930 e '40 como a Era de Ouro das Histórias em Quadrinhos.


2) Enquanto a DC ganhava seus leitores com as histórias do herói mais forte do mundo e do homem-morcego, a pouco conhecida Timely Comics fazia a sua pequena revolução. A Marvel Comics #1 foi lançada em 1939, trazendo figuras ainda pouco definidas dos heróis Tocha-Humana, Namor e Ka-Zar. A editora só mudaria de nome em '60, já sob a tutela de mestres como Stan Lee e Jack Kirby, para ser conhecida como Marvel Comics.

3) Antes do fim da década de 40, e muito antes da criação dos grupos de super-heróis, como X-Men e Os Vingadores, a DC resolveu reunir personagens como Lanterna Verde, Flash e Gavião Negro em um só título, chamado "All-Star Comics". No futuro, os mesmos heróis criariam a notória Liga da Justiça.

4) Terminada a Era de Ouro, começou o que poderiamos chamar de Idades das Trevas das HQs. O Código de Ética das Histórias em Quadrinhos foi criado para regular o conteúdo das HQs: quadrinhos exageradamente violentos começaram a preocupar a opinião pública (a criação do Código ocorreu, coincidentemente, no mesmo momento em que o senador Joseph McCarthy iniciava sua "caça aos comunistas" no congresso americano) . O livro "Sedução dos Inocentes" de Fredric Werthman, quase levou a indústria de HQs à falência. Em pouco tempo, as editoras tentaram se adequar, para o bem ou para o mal, às normas do selo do Código de Ética. Infelizmente, a criação do Código quase freou o crescimento de uma obscura e adorada editora de Quadrinhos, a EC Comics, famosa pelos seus títulos de terror e bizarro. Em 1950, suas histórias macabras eram as mais consumidas nos Estados Unidos. Até vir o tal do Fredric pra enfiar o pé na jaca...

5) A Era de Prata, dizem, ressuscitou as HQs com a publicação da revista Showcase #4, da DC, (já com o selo da Comics Code Authority). Os grandes heróis seriam então reinventados, começando pelo Flash, sob a tutela de Julius Schwartz. As histórias estavam mais sérias, assim como as ilustrações, e o cuidado com os parâmetros apontados pelo Código eram evidentes. A recepção do público foi tão boa, que logo Lanterna Verde, Liga da Justiça e Homem-Átomo também teriam os seus títulos renovados. O sucesso da DC foi o mesmo na Marvel Comics, que agora tinha também seu super-grupo: o Quarteto Fantástico. Stan Lee, com suas novas criações, apresentava algo diferente: os heróis eram mais humanos, semi-deuses que possuiam falhas e defeitos realísticos. O super-herói poderia ser também um "homem comum". Problemas raciais, abusos de droga e desilusões políticas eram assuntos agora presentes também no mundo ficcional dos Quadrinhos. A criação de um dos mais queridos heróis de todos os tempos, o Homem-Aranha, foi prova dessa revolução que Lee queria aplicar nas HQs. Após sua primeira aparição em 1962, na Amazing Fantasy #15, o Aranha se transformou em um verdadeiro ícone da editora Marvel.


6) Indo contra a corrente da elite dos Quadrinhos, produções independentes também começaram a ganhar o público. Isolados do mundo das maravilhas e dos super-heróis, Robert Crumb e seus personagens debutaram no mundo das HQs na revista Zap Comix, considerada como a primeira obra underground dos Quadrinhos, isso em 1967. Pouco mais de 5 mil cópias foram vendidas enquanto Crumb, roteirista e ilustrador, carregava as revistas em um carrinho de bêbe e as vendia na rua por apenas 30 centavos. Nascia o movimento da contracultura nas HQs.


7) Fato curioso: ao final da década de 1950, a Marvel ficou sem uma distribuidora. Entre 1957 e 1968, títulos da Marvel foram vendidos pela Independente News Co. Acontece que, o dono da INC era... Quem diria?! A própria editora DC. Pois é. Por um longo tempo, a Marvel só foi permitida a lançar 8 títulos por mês, obrigando grandes heróis, como Homem de Ferro e Capitão América a dividir revistas. Bizarro!!!

8) A Era de Bronze parece englobar os anos entre 1963 e 1985. Neste período, novos títulos e novas revoluções: os X-Men eram reformulados e relançados. Poucos sabem disso, mas não foi Chris Claremont o maior responsável por esta reformulação, mas um homem chamado Len Wein. E se de um lado tinhamos os mutantes/pupilos do Professor Xavier, do outro teriamos "Os Novos Titãs". A arte de George Pérez acelerou o sucesso do novo título da DC, superando as publicações da Marvel e dos próprios X-Men.

9) No momento em que a Marvel ia bem com seu grupo de mutantes, a DC se via no meio de uma bagunça temporal. Ninguém sabia direito quantos Super-Homens existiam, e quantos mundos paralelos, e quantas linhas cronológicas... Uma bagunça logo nas vésperas dos 50 anos da editora. Para comemorar o seu aniversário, então, nada melhor do que uma grande "limpeza". A série "Crise nas Infinitas Terras" veio para colocar ordem na casa. Os multi-mundos-paralelos foram descartados, e os clones dos heróis foram exterminados. As "Crises" rapidamente organizaram os títulos da DC, alcançando ao mesmo tempo um outro nível de leitores.

10) Para reconquistar seus fãs, as editoras recorrentemente matavam um ou outro personagem. Gwen Stacy, então namorada de Peter Parker, seria assassinada pelo Duende Verde em 1973, na edição #121 do Incrível Homem-Aranha. Em '80, a fundadora dos X-Men, Fênix, se suicidaria para salvar a humanidade em Os Fabulosos X-Men #137. E outras mortes ressuscitariam a atenção dos fãs...

A Era Moderna também trouxe muitas revoluções. Na continuação: a importância das obras de Will Eisner, o nascimento das editoras Image e Dark Horse, e o boom das Graphic Novels com as publicações do selo VERTIGO.

algumas dicas para os colecionadores, os ratos de sebo e os viciados em "emule"

1) Criado por Alan Moore e Chris Sprouse, "Tom Strong" ganhou publicação no Brasil através da editora Pixel, carregando o selo da "America's Best Comics". A edição especial "A Invasão das Formigas Gigantes", já nas bancas, apresenta o herói científico Tom Strong ao lado de seu estranhíssimo grupo de maravilhas: sua esposa Dhalua, um gorila falante chamado Rei Salomão e um robô domesticado. A série já faturou o valioso EISNER AWARDS e comparece nas prateleiras brasileiras já com duas revistas. Nesta edição, uma história do tipo "eu já vi isso antes", mas que certamente vale a pena: Tom Strong e seu grupo devem resistir a uma invasão alienígena. Formigas gigantes pretendem invadir a terra, e mais uma história clichê se transforma em verdadeira literatura nas mãos do gênio Alan Moore. Com 128 páginas de legítima ficção-ciêntifica, o livro sai a R$ 32,90 para o fiel leitor.


2) A aclamadíssima série de Kurt Busiek chegou às bancas este ano com a revista "Samaritano Especial e Outras Histórias". Carregando o selo da WildStorm, o livro apresenta mais uma aventura com os complexos heróis da cidade Astro City. Essa edição, entre outras apresentações, detalha um pouco mais a origem de seus personagens. A capa carrega a arte de Alex Ross. Para qualquer amante de super-heróis essa é uma dica óbvia. Custando R$ 15,90, são 128 páginas de argumentação genial. Para aqueles que curtem Busiek na "JLA", vai curtir essa com certeza.


3) Agora, para uma coisa menos lugar-comum. Fuxicando na internet, achamos um livro incrível: "SUPREMO: A Era de Ouro", escrito por ninguém menos que Alan Moore (e com desenhos de Joe Bennet, Rick Veitch, Keith Giffen, Bill Wray, Dan Jurgens, Richard Horie e J. Moorigan). Já se falou muito de Alan Moore até agora, então fica somente a dica: procure no Emule. Se essa revista cair em suas mãos, não deixe de guardá-la. A Devir já tratou de colocar esse livro nas prateleiras. Corra para achar o sua, seja no sebo, na net ou nas livrarias.


4) Certo. Agora, para aqueles caras que nasceram com a bunda virada para a lua: Ou você é um fanático por HQs e já possui essa revista, no original, etc, ou você acabou de achar o seu: "X-MEN: A Saga da Fénix Negra", no sebo, como eu. Pois é, esse daí eu tive sorte de achar em um sebo aqui na cidade, o que me custou nada mais nada menos do que simples R$ 10,00. A história é incrível, os desenhos são clássicos, tudo em preto e branco e bem arrumado numa bela edição encardenada. A capa estava um pouco surrada, mas aos diabos: valeu a pena! E valerá a pena se você fuxicar até nas prateleiras empoeiradas do sebo mais perto de você (lembrando sempre dos acervos eletrónicos na net). A Mythos editora é a responsável por este re-lançamento. Procure que vale a pena!!!


5) Por último, um CLÁÁÁSICO - e outro item de sebo. SURFISTA PRATEADO, na edição também histórica com Stan Lee (a lenda) e John Buscema, apresentando o herói criado em 1966 através das pinceladas do "imortal" Jack Kirby. Nesta deliciosa edição, Lee reuniu as seis primeiras aventura de um dos mais instigantes heróis de todo o universo Marvel. Nem precisa falar que vale a pena!
"Bem alto, acima do topo do mundo, ele voa... livre e inabalável como o próprio vento! Desbravador de um trilhão de galáxias. Arrojado peregrino que veio dos mais longínquos confins do espaço! Ele é o reluzente buscador da verdade que os homens chamarão para todo o sempre de... SURFISTA PRATEADO!"

UMA INTRODUÇÃO ADEQUADA - A "Graphic Novel" - por WILL EISNER (do livro "Quadrinhos e a Arte Seqüencial")

Em anos recentes, um novo horizonte se abriu com o surgimento da graphic novel, um forma de revista de quadrinhos, ainda em estado embrionário de desenvolvimento, que vem sendo foco de grande interesse. Os esforços com vistas a essa aplicação do meio, aleatórios e entusiásticos, ainda esbarram num público despreparado, para não falar num sistema de distribuição mal equipado, adaptado às condições de um mercado geral em que a apresentação segue padrões antiquados.
Historicamente, os quadrinhos têm se restringido a narrações breves ou a episódios de curta duração, mas movimentados. Na verdade, supunha-se que o leitor buscava nas histórias em quadrinhos informações de transmissão visual instantânea, como nas tiras de jornais, ou uma experiência visual de natureza sensorial, como nos quadrinhos fantásticos. Entre 1940 e o início da década de 1960, a indústrica aceitava, comumente, o perfil do leitor de quadrinhos como o de uma "criança de 10 anos, do interior". Um adulto ler histórias em quadrinhos era considerado sinal de pouca inteligência. As editoras não estimulavam nem apoiavam nada além disso.

As primeiras narrações em tapeçarias, frisos e hieróglifos registravam eventos ou procuram reforçar mitologias; elas falavam a um grande público. Na Idade Média, a arte seqüencial procurava narrar episódios edificantes ou histórias religiosas sem grande profundidade de discussão ou nuance, para um público que tinha pouca educação formal. Assim, a arte seqüencial desenvolveu-se até atingir a forma de uma espécie de taquigrafia, que empregava estereótipos ao se referir ao envolvimento humano. Para os leitores que desejavam temas mais refinados, narrativas mais sutis e complexas, era mais fácil aprender a ler palavras. A aplicação futura da arte seqüencial descobrirá que este é o seu maior desafio.
O futuro da graphic novel encontra-se na escolha de temas importantes e na inovação da exposição. Dado que, apesar da proliferação da tecnologia eletrónica, a página impressa manterá o seu lugar no futuro imediato, para que atrair um público mais refinada está nas mãos de artistas e escritores sérios de quadrinhos, dispostos a correr o risco do ensaio e erro. Os editores são apenas catalisadores. Não se deve esperar mais nada deles.
O futuro dessa forma aguarda participantes que acreditem realmente que a aplicação da arte seqüencial, com sen entrelaçamento de palavras e figuras, possa oferecer uma dimensão da comunicação que contribua para o corpo da literatura preocupada em examinar a experiência humana. Essa arte, então, consiste em dispor imagens e palavras, de maneira harmônica e equilibrada, dentro das limitações do veículo e em face da ambivalência do público em relação a ele.
Apesar do estilo, da apresentação, da economia de espaço e da natureza tecnológica da reprodução, os balões e os quadrinhos ainda são as ferramentas básicas de trabalho. Quanto à receptividade do público, ela deverá mudar, e certamente aumentará à medida que o produto oferecer mais e se tornar mais importante.

(Will Eisner é uma lenda das Histórias em Quadrinhos, criador de um dos mais complexos e intrigantes personagens de HQs, o herói "The Spirit". Ele também foi responsável por um ato marcante na história dos Quadrinhos: ao escrever a HQ "Um Contrato com Deus", com mais de 100 páginas, Eisner decidiu publicá-la sob o subtítulo de "Um Romance Gráfico". Pode-se dizer que Eisner revolucionou a compreensão que temos da chamada arte seqüencial. E não por menos, o maior prêmio de reconhecimento de histórias em quadrinhos leva o seu nome em homenagem, o WILL EISNER AWARD.)