quarta-feira, 25 de junho de 2008

Alguns dos maiores "Hãn?"s das HQ's

Hãn? #1 John Byrne. Logicamente, nem o mais pessimista homem vivo neste mundo esperaria ver o escritor John Byrne num artigo como esse, mas não devemos poupar os imortais de seus erros humanos. Pois, oras, ele foi o grande responsável por uma das mais esdruxúlas sequências do Superman, simplesmente o herói mais famoso desta terra, na revista de número 585, publicada em 1987. O personagem Miracle Man, que figura como o convidado especial da revista, tem a sua mulher, Barda, sequestrada pelo vilão de Apokolips, a criatura Sleez. Até ai, nada fora do comum. Mas, o que esperar quando vemos que o tal Sleez hipnotiza Barda e tenta filmar um longa pornô com ela. Hãn?
Certo, e se isso não fosse o bastante, a moda cola, e outro vilão sequestra o Super-Homem e faz o mesmo com ele (?), porque, afinal, "pau que dá em pedra dá em pedro". Enfim... o Super tá quase sempre ali em cima no ranking das bizarrices.


Hãn? #2 A Saga dos Clones. Certo, a Saga dos Clones. Muito bem, esssa joça de "minisérie" (mini?), que durou quase dois anos (vai entender), tirou do sério até o baterista do Rolling Stones, mas vamos tentar - repito, tentar... - entender o que aconteceu.
A Saga dos Clones foi publicada entre 1994-96, e é apontada at[e hoje como uma das principias aventuras do eterno "saco-de-pancadas" Spiderman, o Homem-Aranha, herói símbolo da Marvel Comics - e, pode-se dizer tranquilamente, que de dez leitores de HQs, pelo menos a metade é leitor assíudo do título (ou pelo menos, era...). Mas, todo esse carinho foi pouco para impedir a zoação geral.
Tudo começa quando o Chacal (marquem e lembrem bem, o vilão é o Chacal. Não o Dr. Octopus, não o Abutre e, especialmente, não o Duende Verde, mas sim o Chacal), que ainda era conhecido como o professor de biologia Miller Warren, enlouquece quando presencia a morte de Gwen Stacy (por quem era apaixonado). Como todos sabem, o pobre do Aranha foi apontado como culpado pela morte de Gwen. Mais uma vez, o destino puxava o tapete do pobre "Spidey". No decorrer da história, o agora cientista maniáco Chacal acaba dominando a ciência da clonagem. Simultanemente, frui nele um desejo de vingança contra o suposto culpado pela morte de Gwen.
Evidentemente, com este tipo de poder nas mãos e um desejo insuportável de vingança contra o Homem-Aranha (lembrando: susposto culpado pela morte de sua grande amada), Chacal tenta produzir um clone do próprio Peter Parker e não só dele (Peter/Spiderman), mas de Gwen Stacy também. O primeiro modelo original do herói (Peter/Spiderman) é descartado devido a deformações que vai sofrendo após a criação. No futuro, este viria a se tornar no vilão conhecido como Kaine.
Enfim, o Chacal obtem êxito em seus experimentos. Fruto do sucesso, o clone (bem-feito) do Homem-Aranha luta contra o Aranha original e perde. A derrota do clone encerra a primeira fase da Saga dos Clones. Nada mal, não é? Bom, essa primeira parte foi delineada na primeira década dos anos 70 (The Amazing Spiderman #179), quando, por algum motivo desconhecido, as pessoas pareciam ser mais inteligentes (roteirista Gerry Conway, no caso).
Já na Segunda Saga, como é conhecida, o tal clone acaba dando conta de sua situação peculiar de... clone (?), ao ver Peter Parker (seu "igual") com a namorada, Mary Jane. O clone se muda para Miami, onde conhece o cientista Seward Trainner, e adota o nome humano de Ben Reilly (Tio “Ben” + May “Reilley” Parker, Reilley sendo o nome de solteira da tia May - ou seja, um ato pseudo-inteligente dos roteiristas para tentar dar pistas de toda a confusa situação). Mas, o tal clone não é só um “clone físico” de Peter Parker, mas possui também a mesma impressão clonada das memórias do Aranha original. E com essas memórias, chega aquela frasesinha irritante, (e mais uma vez): “with power comes resposability”. Norteado pelo mesmo senso de resposabilidade que norteia a vida de Peter Parker (o original), Ben Reilley (o Peter clone) retorna a Nova Iorque ao saber que Tia May estava morrendo.
Embuido agora da honra e dignidade heróicas, Ben vai correndo para combater o crime, fazendo surgir o Aranha Escarlate, adotando um novo uniforme "igualzinho" ao do Spidey, "só que diferente". Certo, só que no meio de tudo isso Seward Trainer (a mando do vilão Ogro) manipula os testes de DNA, e revela que Ben é o Aranha original (hãn?). Bom, continuando... Após combater Kaine (o Aranha deformado, descartado láááá no começo da história...) e o vilão Chacal, Peter Parker (o original que agora é o clone) decide abandonar o traje de Homem Aranha, dando a Ben Reilley (o clone que agora é o original) a responsabilidade de usar o uniforme do Aranha e o seu nome, para que ele (o Peter clone, mas que descobriu... ah, vocês entenderam!) pudesse finalmente viver uma vida normal como o Peter Parker original, que na verdade... ele sempre foi (?) - Pausa para uma questão: Peter concede seu nome para o Ben porque Ben era o clone e agora deve ser o original, certo? Mas, já que ele sempre foi o original e o nome nunca foi do Peter clone para dar ao depois-Ben-primeiro-Peter que, se era o Peter original (não o primeiro original, mas o segundo, que, como original, também era o primeiro), porque diabos Peter Parker clone que pensávamos ser o original tem que “passar o título” para Ben, que já era o Peter, não o clone, mas o original? -Hãn?! - Pois é! Segura que tem mais...

De qualquer jeito, com um novo uniforme, Ben (não, não Ben... Peter Parker) assume (já não era dele?) a identidade do Homem-Aranha. Nesse tempo, Peter (ou Ben, agora que Peter é o outro, o antigo clone) usaria seu traje antigo mais algumas vezes até perder seus poderes (???) em uma aventura em Portland, e quase falecer (não há tempo o suficiente neste século para explicar tudo isso). Ao final da saga, revela-se que Norman Osborn, o primeiro Duende Verde (ele mesmo) que todos acreditavam estar morto, é o verdadeiro vilão por trás de toda a bagunça, e por anos e anos manipulará não só Ben e Peter (e Peter e Ben), mas também o Chacal (hãn? - pois é, mais instável que o verão brasileiro, na Saga dos Clones, o mundo parecia girar muito mais rápido!). O Duende Verde tenta primeiro explodir o Clarim Diário, mas todos são salvos por Ben (Peter Parker), enquanto Peter (não tô entendendo mais nada!) luta contra o Duende. Ao final, Ben Reilly (quem?) morre atingindo por um raio do Duende e seu corpo se dissolve, provando que Peter Parker sempre foi o querido, verdadeiro (e azarado-pacas) Homem-Aranha - Oê!! O rapaix voltou. Recapitaluando: achávamos primeiro que Ben era clone de Peter, depois, fizeram-nos acreditar (a despeito de já estar claro de que tudo não passava de um plano do tal Seward Trainer) que Peter não era o Peter original, e que o Peter Parker original era, na verdade, Ben Reilly, quando, na verdade das verdades, Peter Parker, o antigo, acaba por ser o verdadeiro. Então, no passar da régua, quando já haviamos sido desacreditos em achar que o Chacal era o mentor de tudo, e depois o Ogro, chegamos enfim ao Duende Verde, desaparecido por mais de seis anos. No ponto final, somos surpreendidos pelo fato de que Ben Reilly nunca foi Peter e que Peter Parker é o verdedeiro Peter mesmo, como tudo começou!
Ultima pergunta: se Peter começou como ele mesmo, depois virou clone, e depois acabou se mostrando mesmo o original, como diabos ele pode ter chegado perto de perder seus poderes? Hãn?!
Ah, sim, pra finalizar: o clone de Gwen, nessa altura, já estava com uma familia inteira em algum canto do país, vivendo ao deus dará.
E fica aquela famosa frase do poeta: Escute, amigo: se foi pra desfazer, porque que fez?


Hãn? #3 11 de Setembro. Isso mesmo, senhoras e senhores, a incrível Casa de Idéias (Marvel), em mais uma de suas – raras, é verdade – mas tristes “gafes”, não poupou o resto do mundo da onda do "simpático" patriotismo que explodiu nos Estados Unidos após a queda das torres do World Trade Center. Sim, é o "Spidey" de novo, e agora, como no filme, o arauto das cores estadunidenses conclama o povo nova-iorquino à defesa do "american way of life".
Trata-se da da história escrita por J. Michael Straczynski e desenhada por John Romita Jr. (dois grandes artistas, por sinal), que apresentam uma série de reflexões do Homem-Aranha perante os atentados do 11 de Setembro, chamando todos os povos à paz e à compreensão. Os Quadrinhos também apontam os bombeiros e as "pessoas comuns" como os verdadeiros heróis da tragédia. A HQ traz ainda uma prévia da fase pós-11 de setembro e a sua influência sobre o herói-símbolo dos EUA, o Capitão América, que agora encampa uma batalha contra o terrorismo (após exterminar todos os nazistas da face da terra).
Certo, certo, todos choramos pelos que morreram no atentado, e tudo o mais, mas uma pessoa nesse mundo não podia chorar. Apenas um ser, apenas um, deveria ter sido poupado do snif! snif! geral da nação norte-americana (e mundial). Apenas um! E ele não foi.
Nos distantes recônditos do Universo, existe um lugar chamado Latvéria. Lá, um menino traumatizado viverá uma vida horripilante: perderá seus pais, lutará contra o próprio Cão (sim, a Besta em pessoa!) para chegar ao único relance de sucesso honesto em sua vida... até ser expulso da faculdade, jurar a morte ao ex-melhor amigo e explodir junto com sua própria invenção. Seu rosto ficará deformado, e o coitado ainda vai descobrir que sua mãe se encontra condenada no oitavo círculo do inferno. Esse, meus amigos, só poderia ser Victor Von Doom, o senhor do universo, condecorado por ninguém menos que Stan “O Mago” Lee. Mas, mesmo por debaixo daquela armadura construída por magias milenares de budistas tibetanos, e ao redor daquele pele queimada e grotesca rolará... (blasfêmia, mas verdade) uma lágrima. Ele, Dr. Doom, o Doutor Destino, que já quase conseguiu acabar com o mundo, superando em crueldade vilões como Magneto, Homem-Impossível e Fanático, chorou pelo 11 de Setembro. Dr. Doom... chorou. "O" Dr. Doom.

Ahá! E acharam que era só isso? Nãnãnão, contra os Estados Unidos, não podemos poupar forças: dois detalhes curiosíssimos. Porque o Rei do Crime não chorou? Ora, ele, como nova-iorquino, deveria ter ficado em pior estado que o lavteniano Dr. Doom.
Sim, citei o Rei, mas foi apenas para distraí-los. O grande e sempre frio Magneto também se emocionou ante as mortes dos humanos-odiadores-de-mutantes. Mas, ora bolas, porque diabo eles não salvaram o mundo que tanto queriam destruir? (Hãn?)
Pelo menos o Lobo é da DC. Ufa!

Um Manifesto (?)

Em 2004, Eddie Campbell ("From Hell", 2000) lançou uma espécie de Manifesto para elucidar o conceito de "Graphic Novel" como um movimento artístico. Abaixo, segue o texto completo, traduzido para do original em inglês:

Há tanta discordância – entre nós – e mal-entendidos – no grande público – em torno do “romance gráfico”, que já é tempo de definirmos alguns princípios.

1. “Romance gráfico” é um termo desagradável, mas vamos utilizá-lo seja como for, para compreendermos que gráfico não tem nada a ver com design gráfico e que romance não tem nada a ver com os 'romances' em si (tal como “Impressionismo” não é um termo verdadeiramente aplicável pois foi utilizado em primeiro lugar como um insulto, e depois adoptado a modo de provocação).

2. Como não estamos nos referindo de maneira alguma ao tradicional romance literário, não defendemos que o romance gráfico deva ter as mesmas dimensões nem o mesmo peso físico. Assim, termos suplementares como “novela” ou “conto”, etc., não serão aqui empregues, e só servem para confundir os públicos em relação ao nosso propóstio (ver abaixo), levando-os a pensar que é nossa intenção criar uma versão ilustrada de um determinado nível de literatura, quando na verdade temos bem melhor para fazer, a saber, estamos criando uma arte
completamente nova que não será limitada pelas regras arbitrárias de uma outra velha arte.

3. O “Romance gráfico” representa mais um movimento do que uma forma. Por isso podemos falar de “antecedentes” do romance gráfico, como os livros de xilogravuras de Lynd Ward. Porém, não nos interessa utilizar o termo retrospectivamente.

4. Apesar do romancista gráfico considerar os seus vários antecedentes génios e profetas, sem o trabalho dos quais não poderia ter criado o seu próprio trabalho, não deseja colocar-se permanentemente à sombra do Rake’s Progress de William Hogarth sempre que ganha algum grama de publicidade, quer para si quer para a sua arte em geral.

5. Uma vez que o termo se refere a um movimento, a um evento contínuo, mais do que a uma forma, não há nada a ganhar com sua definição ou “medição”. O conceito tem cerca de trinta anos, apesar de tanto este como o nome terem sido utilizados casualmente desde uns dez anos antes. Uma vez que se encontra ainda em crescimento, é bem possível que se tenha alterado totalmente por este mesmo período do ano que vem.

6. O propósito do romancista gráfico é se utilizar da forma da revista de Histórias em Quadrinhos [comic book], que agora apenas nos envergonha, e elevá-la a um nível mais ambicioso e mais significativo. Isto implica normalmente em aumentar-lhe o tamanho, mas devemos ter cautela para não entrar em disputas sobre quais são os tamanhos aceitáveis. Se um artista qualquer apresentar uma coleção de pequenos contos como o seu novo romance gráfico (tal qual Will Eisner fez com A contract with God, por exemplo), não devemos entrar em picuínhices. Devemos apenas examinar se esse romance gráfico é uma boa ou uma má série de histórias. Se o artista ou a artista utilizar personagens que apareceram noutro cenário, como a presença de Jimmy Corrigan (Chris Ware) em títulos que não o principal, ou as de Gilbert Hernandez, etc., ou até mesmo outras personagens que não desejamos que façam parte da nossa “sociedade secreta”, não os desconsideraremos por essa simples razão. Se o seu livro não se parecer com uma histórias em quadrinhos, também não entraremos em detalhes. Basta perguntar se esse trabalho aumenta ou não a totalidade do conhecimento humano.

7. O termo romance gráfico não será empregue como indicativo de um formato comercial (tal como os termos “segunda mão” e “capa-dura” ou "formato americano"). Poderá tratar-se de um manuscrito inédito ou apresentado em episódios ou partes. O mais importante é o intuito, mesmo que este surja após a publicação original.
8. Os temas dos romancistas gráficos são toda a existência, inclusive as suas próprias vidas. Os artistas desprezam os “generos” e todos os seus clichés horrorosos, apesar de conservarem uma perspectiva alargada. Ressentem particularmente a noção, ainda prevalecente em muitos lugares, e não sem razão, de que a história em quadrinhos é um subgenero da ficção científica ou da fantasia heróica.

9. Os romancistas gráficos jamais pensariam em empregar o termo romance gráfico quando se encontram entre os seus pares. Referir-se-iam mais normalmente ao seu “último livro” ou o seu “trabalho em curso”, ou “a mesma treta de sempre”, ou até mesmo “gibis”, etc. O termo deve ser empregue como uma insígnia ou uma bandeira velha que se vai buscar ao ouvir o apelo de batalha, ou quando murmura ao perguntar pela localização de uma certa seção de uma livraria que não conhecemos. Os editores poderão utilizá-lo assim que entenderem, e até que signifique ainda menos do que o nada que já significa. E mais, os romancistas gráficos têm bem a noção de que a próxima geração de artistas de histórias em quadrinhos escolherão formas o mais pequenas possível e que farão pouco da sua arrogância.

10. Os romancistas gráficos reservam o seu direito a retratar-se de todas as anteriores, se isso os ajudar a vender mais.