quarta-feira, 25 de junho de 2008

Alguns dos maiores "Hãn?"s das HQ's

Hãn? #1 John Byrne. Logicamente, nem o mais pessimista homem vivo neste mundo esperaria ver o escritor John Byrne num artigo como esse, mas não devemos poupar os imortais de seus erros humanos. Pois, oras, ele foi o grande responsável por uma das mais esdruxúlas sequências do Superman, simplesmente o herói mais famoso desta terra, na revista de número 585, publicada em 1987. O personagem Miracle Man, que figura como o convidado especial da revista, tem a sua mulher, Barda, sequestrada pelo vilão de Apokolips, a criatura Sleez. Até ai, nada fora do comum. Mas, o que esperar quando vemos que o tal Sleez hipnotiza Barda e tenta filmar um longa pornô com ela. Hãn?
Certo, e se isso não fosse o bastante, a moda cola, e outro vilão sequestra o Super-Homem e faz o mesmo com ele (?), porque, afinal, "pau que dá em pedra dá em pedro". Enfim... o Super tá quase sempre ali em cima no ranking das bizarrices.


Hãn? #2 A Saga dos Clones. Certo, a Saga dos Clones. Muito bem, esssa joça de "minisérie" (mini?), que durou quase dois anos (vai entender), tirou do sério até o baterista do Rolling Stones, mas vamos tentar - repito, tentar... - entender o que aconteceu.
A Saga dos Clones foi publicada entre 1994-96, e é apontada at[e hoje como uma das principias aventuras do eterno "saco-de-pancadas" Spiderman, o Homem-Aranha, herói símbolo da Marvel Comics - e, pode-se dizer tranquilamente, que de dez leitores de HQs, pelo menos a metade é leitor assíudo do título (ou pelo menos, era...). Mas, todo esse carinho foi pouco para impedir a zoação geral.
Tudo começa quando o Chacal (marquem e lembrem bem, o vilão é o Chacal. Não o Dr. Octopus, não o Abutre e, especialmente, não o Duende Verde, mas sim o Chacal), que ainda era conhecido como o professor de biologia Miller Warren, enlouquece quando presencia a morte de Gwen Stacy (por quem era apaixonado). Como todos sabem, o pobre do Aranha foi apontado como culpado pela morte de Gwen. Mais uma vez, o destino puxava o tapete do pobre "Spidey". No decorrer da história, o agora cientista maniáco Chacal acaba dominando a ciência da clonagem. Simultanemente, frui nele um desejo de vingança contra o suposto culpado pela morte de Gwen.
Evidentemente, com este tipo de poder nas mãos e um desejo insuportável de vingança contra o Homem-Aranha (lembrando: susposto culpado pela morte de sua grande amada), Chacal tenta produzir um clone do próprio Peter Parker e não só dele (Peter/Spiderman), mas de Gwen Stacy também. O primeiro modelo original do herói (Peter/Spiderman) é descartado devido a deformações que vai sofrendo após a criação. No futuro, este viria a se tornar no vilão conhecido como Kaine.
Enfim, o Chacal obtem êxito em seus experimentos. Fruto do sucesso, o clone (bem-feito) do Homem-Aranha luta contra o Aranha original e perde. A derrota do clone encerra a primeira fase da Saga dos Clones. Nada mal, não é? Bom, essa primeira parte foi delineada na primeira década dos anos 70 (The Amazing Spiderman #179), quando, por algum motivo desconhecido, as pessoas pareciam ser mais inteligentes (roteirista Gerry Conway, no caso).
Já na Segunda Saga, como é conhecida, o tal clone acaba dando conta de sua situação peculiar de... clone (?), ao ver Peter Parker (seu "igual") com a namorada, Mary Jane. O clone se muda para Miami, onde conhece o cientista Seward Trainner, e adota o nome humano de Ben Reilly (Tio “Ben” + May “Reilley” Parker, Reilley sendo o nome de solteira da tia May - ou seja, um ato pseudo-inteligente dos roteiristas para tentar dar pistas de toda a confusa situação). Mas, o tal clone não é só um “clone físico” de Peter Parker, mas possui também a mesma impressão clonada das memórias do Aranha original. E com essas memórias, chega aquela frasesinha irritante, (e mais uma vez): “with power comes resposability”. Norteado pelo mesmo senso de resposabilidade que norteia a vida de Peter Parker (o original), Ben Reilley (o Peter clone) retorna a Nova Iorque ao saber que Tia May estava morrendo.
Embuido agora da honra e dignidade heróicas, Ben vai correndo para combater o crime, fazendo surgir o Aranha Escarlate, adotando um novo uniforme "igualzinho" ao do Spidey, "só que diferente". Certo, só que no meio de tudo isso Seward Trainer (a mando do vilão Ogro) manipula os testes de DNA, e revela que Ben é o Aranha original (hãn?). Bom, continuando... Após combater Kaine (o Aranha deformado, descartado láááá no começo da história...) e o vilão Chacal, Peter Parker (o original que agora é o clone) decide abandonar o traje de Homem Aranha, dando a Ben Reilley (o clone que agora é o original) a responsabilidade de usar o uniforme do Aranha e o seu nome, para que ele (o Peter clone, mas que descobriu... ah, vocês entenderam!) pudesse finalmente viver uma vida normal como o Peter Parker original, que na verdade... ele sempre foi (?) - Pausa para uma questão: Peter concede seu nome para o Ben porque Ben era o clone e agora deve ser o original, certo? Mas, já que ele sempre foi o original e o nome nunca foi do Peter clone para dar ao depois-Ben-primeiro-Peter que, se era o Peter original (não o primeiro original, mas o segundo, que, como original, também era o primeiro), porque diabos Peter Parker clone que pensávamos ser o original tem que “passar o título” para Ben, que já era o Peter, não o clone, mas o original? -Hãn?! - Pois é! Segura que tem mais...

De qualquer jeito, com um novo uniforme, Ben (não, não Ben... Peter Parker) assume (já não era dele?) a identidade do Homem-Aranha. Nesse tempo, Peter (ou Ben, agora que Peter é o outro, o antigo clone) usaria seu traje antigo mais algumas vezes até perder seus poderes (???) em uma aventura em Portland, e quase falecer (não há tempo o suficiente neste século para explicar tudo isso). Ao final da saga, revela-se que Norman Osborn, o primeiro Duende Verde (ele mesmo) que todos acreditavam estar morto, é o verdadeiro vilão por trás de toda a bagunça, e por anos e anos manipulará não só Ben e Peter (e Peter e Ben), mas também o Chacal (hãn? - pois é, mais instável que o verão brasileiro, na Saga dos Clones, o mundo parecia girar muito mais rápido!). O Duende Verde tenta primeiro explodir o Clarim Diário, mas todos são salvos por Ben (Peter Parker), enquanto Peter (não tô entendendo mais nada!) luta contra o Duende. Ao final, Ben Reilly (quem?) morre atingindo por um raio do Duende e seu corpo se dissolve, provando que Peter Parker sempre foi o querido, verdadeiro (e azarado-pacas) Homem-Aranha - Oê!! O rapaix voltou. Recapitaluando: achávamos primeiro que Ben era clone de Peter, depois, fizeram-nos acreditar (a despeito de já estar claro de que tudo não passava de um plano do tal Seward Trainer) que Peter não era o Peter original, e que o Peter Parker original era, na verdade, Ben Reilly, quando, na verdade das verdades, Peter Parker, o antigo, acaba por ser o verdadeiro. Então, no passar da régua, quando já haviamos sido desacreditos em achar que o Chacal era o mentor de tudo, e depois o Ogro, chegamos enfim ao Duende Verde, desaparecido por mais de seis anos. No ponto final, somos surpreendidos pelo fato de que Ben Reilly nunca foi Peter e que Peter Parker é o verdedeiro Peter mesmo, como tudo começou!
Ultima pergunta: se Peter começou como ele mesmo, depois virou clone, e depois acabou se mostrando mesmo o original, como diabos ele pode ter chegado perto de perder seus poderes? Hãn?!
Ah, sim, pra finalizar: o clone de Gwen, nessa altura, já estava com uma familia inteira em algum canto do país, vivendo ao deus dará.
E fica aquela famosa frase do poeta: Escute, amigo: se foi pra desfazer, porque que fez?


Hãn? #3 11 de Setembro. Isso mesmo, senhoras e senhores, a incrível Casa de Idéias (Marvel), em mais uma de suas – raras, é verdade – mas tristes “gafes”, não poupou o resto do mundo da onda do "simpático" patriotismo que explodiu nos Estados Unidos após a queda das torres do World Trade Center. Sim, é o "Spidey" de novo, e agora, como no filme, o arauto das cores estadunidenses conclama o povo nova-iorquino à defesa do "american way of life".
Trata-se da da história escrita por J. Michael Straczynski e desenhada por John Romita Jr. (dois grandes artistas, por sinal), que apresentam uma série de reflexões do Homem-Aranha perante os atentados do 11 de Setembro, chamando todos os povos à paz e à compreensão. Os Quadrinhos também apontam os bombeiros e as "pessoas comuns" como os verdadeiros heróis da tragédia. A HQ traz ainda uma prévia da fase pós-11 de setembro e a sua influência sobre o herói-símbolo dos EUA, o Capitão América, que agora encampa uma batalha contra o terrorismo (após exterminar todos os nazistas da face da terra).
Certo, certo, todos choramos pelos que morreram no atentado, e tudo o mais, mas uma pessoa nesse mundo não podia chorar. Apenas um ser, apenas um, deveria ter sido poupado do snif! snif! geral da nação norte-americana (e mundial). Apenas um! E ele não foi.
Nos distantes recônditos do Universo, existe um lugar chamado Latvéria. Lá, um menino traumatizado viverá uma vida horripilante: perderá seus pais, lutará contra o próprio Cão (sim, a Besta em pessoa!) para chegar ao único relance de sucesso honesto em sua vida... até ser expulso da faculdade, jurar a morte ao ex-melhor amigo e explodir junto com sua própria invenção. Seu rosto ficará deformado, e o coitado ainda vai descobrir que sua mãe se encontra condenada no oitavo círculo do inferno. Esse, meus amigos, só poderia ser Victor Von Doom, o senhor do universo, condecorado por ninguém menos que Stan “O Mago” Lee. Mas, mesmo por debaixo daquela armadura construída por magias milenares de budistas tibetanos, e ao redor daquele pele queimada e grotesca rolará... (blasfêmia, mas verdade) uma lágrima. Ele, Dr. Doom, o Doutor Destino, que já quase conseguiu acabar com o mundo, superando em crueldade vilões como Magneto, Homem-Impossível e Fanático, chorou pelo 11 de Setembro. Dr. Doom... chorou. "O" Dr. Doom.

Ahá! E acharam que era só isso? Nãnãnão, contra os Estados Unidos, não podemos poupar forças: dois detalhes curiosíssimos. Porque o Rei do Crime não chorou? Ora, ele, como nova-iorquino, deveria ter ficado em pior estado que o lavteniano Dr. Doom.
Sim, citei o Rei, mas foi apenas para distraí-los. O grande e sempre frio Magneto também se emocionou ante as mortes dos humanos-odiadores-de-mutantes. Mas, ora bolas, porque diabo eles não salvaram o mundo que tanto queriam destruir? (Hãn?)
Pelo menos o Lobo é da DC. Ufa!

Um Manifesto (?)

Em 2004, Eddie Campbell ("From Hell", 2000) lançou uma espécie de Manifesto para elucidar o conceito de "Graphic Novel" como um movimento artístico. Abaixo, segue o texto completo, traduzido para do original em inglês:

Há tanta discordância – entre nós – e mal-entendidos – no grande público – em torno do “romance gráfico”, que já é tempo de definirmos alguns princípios.

1. “Romance gráfico” é um termo desagradável, mas vamos utilizá-lo seja como for, para compreendermos que gráfico não tem nada a ver com design gráfico e que romance não tem nada a ver com os 'romances' em si (tal como “Impressionismo” não é um termo verdadeiramente aplicável pois foi utilizado em primeiro lugar como um insulto, e depois adoptado a modo de provocação).

2. Como não estamos nos referindo de maneira alguma ao tradicional romance literário, não defendemos que o romance gráfico deva ter as mesmas dimensões nem o mesmo peso físico. Assim, termos suplementares como “novela” ou “conto”, etc., não serão aqui empregues, e só servem para confundir os públicos em relação ao nosso propóstio (ver abaixo), levando-os a pensar que é nossa intenção criar uma versão ilustrada de um determinado nível de literatura, quando na verdade temos bem melhor para fazer, a saber, estamos criando uma arte
completamente nova que não será limitada pelas regras arbitrárias de uma outra velha arte.

3. O “Romance gráfico” representa mais um movimento do que uma forma. Por isso podemos falar de “antecedentes” do romance gráfico, como os livros de xilogravuras de Lynd Ward. Porém, não nos interessa utilizar o termo retrospectivamente.

4. Apesar do romancista gráfico considerar os seus vários antecedentes génios e profetas, sem o trabalho dos quais não poderia ter criado o seu próprio trabalho, não deseja colocar-se permanentemente à sombra do Rake’s Progress de William Hogarth sempre que ganha algum grama de publicidade, quer para si quer para a sua arte em geral.

5. Uma vez que o termo se refere a um movimento, a um evento contínuo, mais do que a uma forma, não há nada a ganhar com sua definição ou “medição”. O conceito tem cerca de trinta anos, apesar de tanto este como o nome terem sido utilizados casualmente desde uns dez anos antes. Uma vez que se encontra ainda em crescimento, é bem possível que se tenha alterado totalmente por este mesmo período do ano que vem.

6. O propósito do romancista gráfico é se utilizar da forma da revista de Histórias em Quadrinhos [comic book], que agora apenas nos envergonha, e elevá-la a um nível mais ambicioso e mais significativo. Isto implica normalmente em aumentar-lhe o tamanho, mas devemos ter cautela para não entrar em disputas sobre quais são os tamanhos aceitáveis. Se um artista qualquer apresentar uma coleção de pequenos contos como o seu novo romance gráfico (tal qual Will Eisner fez com A contract with God, por exemplo), não devemos entrar em picuínhices. Devemos apenas examinar se esse romance gráfico é uma boa ou uma má série de histórias. Se o artista ou a artista utilizar personagens que apareceram noutro cenário, como a presença de Jimmy Corrigan (Chris Ware) em títulos que não o principal, ou as de Gilbert Hernandez, etc., ou até mesmo outras personagens que não desejamos que façam parte da nossa “sociedade secreta”, não os desconsideraremos por essa simples razão. Se o seu livro não se parecer com uma histórias em quadrinhos, também não entraremos em detalhes. Basta perguntar se esse trabalho aumenta ou não a totalidade do conhecimento humano.

7. O termo romance gráfico não será empregue como indicativo de um formato comercial (tal como os termos “segunda mão” e “capa-dura” ou "formato americano"). Poderá tratar-se de um manuscrito inédito ou apresentado em episódios ou partes. O mais importante é o intuito, mesmo que este surja após a publicação original.
8. Os temas dos romancistas gráficos são toda a existência, inclusive as suas próprias vidas. Os artistas desprezam os “generos” e todos os seus clichés horrorosos, apesar de conservarem uma perspectiva alargada. Ressentem particularmente a noção, ainda prevalecente em muitos lugares, e não sem razão, de que a história em quadrinhos é um subgenero da ficção científica ou da fantasia heróica.

9. Os romancistas gráficos jamais pensariam em empregar o termo romance gráfico quando se encontram entre os seus pares. Referir-se-iam mais normalmente ao seu “último livro” ou o seu “trabalho em curso”, ou “a mesma treta de sempre”, ou até mesmo “gibis”, etc. O termo deve ser empregue como uma insígnia ou uma bandeira velha que se vai buscar ao ouvir o apelo de batalha, ou quando murmura ao perguntar pela localização de uma certa seção de uma livraria que não conhecemos. Os editores poderão utilizá-lo assim que entenderem, e até que signifique ainda menos do que o nada que já significa. E mais, os romancistas gráficos têm bem a noção de que a próxima geração de artistas de histórias em quadrinhos escolherão formas o mais pequenas possível e que farão pouco da sua arrogância.

10. Os romancistas gráficos reservam o seu direito a retratar-se de todas as anteriores, se isso os ajudar a vender mais.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Dez Acontecimentos Importantes no Universo das HQs até a primeira metade do Século XX

1) Os Estados Unidos amargavam a depressão econômica, quando uma revista chegou às bancas para revolucionar de vez o universo das Histórias em Quadrinhos. A Action Comics #1 trazia não só a estréia do super-herói mais famoso de todos os tempos, como também o resgate da antiga idealização do herói mítico greco-romano, endeusificado na figura de colant e capa vermelha, como um verdadeiro "salvador da pátria" - o Super-Homem. Em 1938, Jerry Siegel e Joe Shuster resolveram criar um herói praticamente invencível e super-poderoso. Poucos sabem que Siegel e Shuster tinham planos mais escusos para o herói de capa vermelha (era para ele ser um vilão), mas a idéia foi descartada. Melhor para a América do Norte, que viu nascer o seu mais conhecido herói. Após a criação do "Super", outros mascarados entrariam em cena: Batman, em '39, na edição #27 da Detective Comics, por exemplo, também ganhou sua estréia, através de Kane e Finger, que dessa vez apresentavam um herói mais humano e sério. A enxurrada de heróis que viria a seguir classificaria a década de 1930 e '40 como a Era de Ouro das Histórias em Quadrinhos.


2) Enquanto a DC ganhava seus leitores com as histórias do herói mais forte do mundo e do homem-morcego, a pouco conhecida Timely Comics fazia a sua pequena revolução. A Marvel Comics #1 foi lançada em 1939, trazendo figuras ainda pouco definidas dos heróis Tocha-Humana, Namor e Ka-Zar. A editora só mudaria de nome em '60, já sob a tutela de mestres como Stan Lee e Jack Kirby, para ser conhecida como Marvel Comics.

3) Antes do fim da década de 40, e muito antes da criação dos grupos de super-heróis, como X-Men e Os Vingadores, a DC resolveu reunir personagens como Lanterna Verde, Flash e Gavião Negro em um só título, chamado "All-Star Comics". No futuro, os mesmos heróis criariam a notória Liga da Justiça.

4) Terminada a Era de Ouro, começou o que poderiamos chamar de Idades das Trevas das HQs. O Código de Ética das Histórias em Quadrinhos foi criado para regular o conteúdo das HQs: quadrinhos exageradamente violentos começaram a preocupar a opinião pública (a criação do Código ocorreu, coincidentemente, no mesmo momento em que o senador Joseph McCarthy iniciava sua "caça aos comunistas" no congresso americano) . O livro "Sedução dos Inocentes" de Fredric Werthman, quase levou a indústria de HQs à falência. Em pouco tempo, as editoras tentaram se adequar, para o bem ou para o mal, às normas do selo do Código de Ética. Infelizmente, a criação do Código quase freou o crescimento de uma obscura e adorada editora de Quadrinhos, a EC Comics, famosa pelos seus títulos de terror e bizarro. Em 1950, suas histórias macabras eram as mais consumidas nos Estados Unidos. Até vir o tal do Fredric pra enfiar o pé na jaca...

5) A Era de Prata, dizem, ressuscitou as HQs com a publicação da revista Showcase #4, da DC, (já com o selo da Comics Code Authority). Os grandes heróis seriam então reinventados, começando pelo Flash, sob a tutela de Julius Schwartz. As histórias estavam mais sérias, assim como as ilustrações, e o cuidado com os parâmetros apontados pelo Código eram evidentes. A recepção do público foi tão boa, que logo Lanterna Verde, Liga da Justiça e Homem-Átomo também teriam os seus títulos renovados. O sucesso da DC foi o mesmo na Marvel Comics, que agora tinha também seu super-grupo: o Quarteto Fantástico. Stan Lee, com suas novas criações, apresentava algo diferente: os heróis eram mais humanos, semi-deuses que possuiam falhas e defeitos realísticos. O super-herói poderia ser também um "homem comum". Problemas raciais, abusos de droga e desilusões políticas eram assuntos agora presentes também no mundo ficcional dos Quadrinhos. A criação de um dos mais queridos heróis de todos os tempos, o Homem-Aranha, foi prova dessa revolução que Lee queria aplicar nas HQs. Após sua primeira aparição em 1962, na Amazing Fantasy #15, o Aranha se transformou em um verdadeiro ícone da editora Marvel.


6) Indo contra a corrente da elite dos Quadrinhos, produções independentes também começaram a ganhar o público. Isolados do mundo das maravilhas e dos super-heróis, Robert Crumb e seus personagens debutaram no mundo das HQs na revista Zap Comix, considerada como a primeira obra underground dos Quadrinhos, isso em 1967. Pouco mais de 5 mil cópias foram vendidas enquanto Crumb, roteirista e ilustrador, carregava as revistas em um carrinho de bêbe e as vendia na rua por apenas 30 centavos. Nascia o movimento da contracultura nas HQs.


7) Fato curioso: ao final da década de 1950, a Marvel ficou sem uma distribuidora. Entre 1957 e 1968, títulos da Marvel foram vendidos pela Independente News Co. Acontece que, o dono da INC era... Quem diria?! A própria editora DC. Pois é. Por um longo tempo, a Marvel só foi permitida a lançar 8 títulos por mês, obrigando grandes heróis, como Homem de Ferro e Capitão América a dividir revistas. Bizarro!!!

8) A Era de Bronze parece englobar os anos entre 1963 e 1985. Neste período, novos títulos e novas revoluções: os X-Men eram reformulados e relançados. Poucos sabem disso, mas não foi Chris Claremont o maior responsável por esta reformulação, mas um homem chamado Len Wein. E se de um lado tinhamos os mutantes/pupilos do Professor Xavier, do outro teriamos "Os Novos Titãs". A arte de George Pérez acelerou o sucesso do novo título da DC, superando as publicações da Marvel e dos próprios X-Men.

9) No momento em que a Marvel ia bem com seu grupo de mutantes, a DC se via no meio de uma bagunça temporal. Ninguém sabia direito quantos Super-Homens existiam, e quantos mundos paralelos, e quantas linhas cronológicas... Uma bagunça logo nas vésperas dos 50 anos da editora. Para comemorar o seu aniversário, então, nada melhor do que uma grande "limpeza". A série "Crise nas Infinitas Terras" veio para colocar ordem na casa. Os multi-mundos-paralelos foram descartados, e os clones dos heróis foram exterminados. As "Crises" rapidamente organizaram os títulos da DC, alcançando ao mesmo tempo um outro nível de leitores.

10) Para reconquistar seus fãs, as editoras recorrentemente matavam um ou outro personagem. Gwen Stacy, então namorada de Peter Parker, seria assassinada pelo Duende Verde em 1973, na edição #121 do Incrível Homem-Aranha. Em '80, a fundadora dos X-Men, Fênix, se suicidaria para salvar a humanidade em Os Fabulosos X-Men #137. E outras mortes ressuscitariam a atenção dos fãs...

A Era Moderna também trouxe muitas revoluções. Na continuação: a importância das obras de Will Eisner, o nascimento das editoras Image e Dark Horse, e o boom das Graphic Novels com as publicações do selo VERTIGO.

algumas dicas para os colecionadores, os ratos de sebo e os viciados em "emule"

1) Criado por Alan Moore e Chris Sprouse, "Tom Strong" ganhou publicação no Brasil através da editora Pixel, carregando o selo da "America's Best Comics". A edição especial "A Invasão das Formigas Gigantes", já nas bancas, apresenta o herói científico Tom Strong ao lado de seu estranhíssimo grupo de maravilhas: sua esposa Dhalua, um gorila falante chamado Rei Salomão e um robô domesticado. A série já faturou o valioso EISNER AWARDS e comparece nas prateleiras brasileiras já com duas revistas. Nesta edição, uma história do tipo "eu já vi isso antes", mas que certamente vale a pena: Tom Strong e seu grupo devem resistir a uma invasão alienígena. Formigas gigantes pretendem invadir a terra, e mais uma história clichê se transforma em verdadeira literatura nas mãos do gênio Alan Moore. Com 128 páginas de legítima ficção-ciêntifica, o livro sai a R$ 32,90 para o fiel leitor.


2) A aclamadíssima série de Kurt Busiek chegou às bancas este ano com a revista "Samaritano Especial e Outras Histórias". Carregando o selo da WildStorm, o livro apresenta mais uma aventura com os complexos heróis da cidade Astro City. Essa edição, entre outras apresentações, detalha um pouco mais a origem de seus personagens. A capa carrega a arte de Alex Ross. Para qualquer amante de super-heróis essa é uma dica óbvia. Custando R$ 15,90, são 128 páginas de argumentação genial. Para aqueles que curtem Busiek na "JLA", vai curtir essa com certeza.


3) Agora, para uma coisa menos lugar-comum. Fuxicando na internet, achamos um livro incrível: "SUPREMO: A Era de Ouro", escrito por ninguém menos que Alan Moore (e com desenhos de Joe Bennet, Rick Veitch, Keith Giffen, Bill Wray, Dan Jurgens, Richard Horie e J. Moorigan). Já se falou muito de Alan Moore até agora, então fica somente a dica: procure no Emule. Se essa revista cair em suas mãos, não deixe de guardá-la. A Devir já tratou de colocar esse livro nas prateleiras. Corra para achar o sua, seja no sebo, na net ou nas livrarias.


4) Certo. Agora, para aqueles caras que nasceram com a bunda virada para a lua: Ou você é um fanático por HQs e já possui essa revista, no original, etc, ou você acabou de achar o seu: "X-MEN: A Saga da Fénix Negra", no sebo, como eu. Pois é, esse daí eu tive sorte de achar em um sebo aqui na cidade, o que me custou nada mais nada menos do que simples R$ 10,00. A história é incrível, os desenhos são clássicos, tudo em preto e branco e bem arrumado numa bela edição encardenada. A capa estava um pouco surrada, mas aos diabos: valeu a pena! E valerá a pena se você fuxicar até nas prateleiras empoeiradas do sebo mais perto de você (lembrando sempre dos acervos eletrónicos na net). A Mythos editora é a responsável por este re-lançamento. Procure que vale a pena!!!


5) Por último, um CLÁÁÁSICO - e outro item de sebo. SURFISTA PRATEADO, na edição também histórica com Stan Lee (a lenda) e John Buscema, apresentando o herói criado em 1966 através das pinceladas do "imortal" Jack Kirby. Nesta deliciosa edição, Lee reuniu as seis primeiras aventura de um dos mais instigantes heróis de todo o universo Marvel. Nem precisa falar que vale a pena!
"Bem alto, acima do topo do mundo, ele voa... livre e inabalável como o próprio vento! Desbravador de um trilhão de galáxias. Arrojado peregrino que veio dos mais longínquos confins do espaço! Ele é o reluzente buscador da verdade que os homens chamarão para todo o sempre de... SURFISTA PRATEADO!"

UMA INTRODUÇÃO ADEQUADA - A "Graphic Novel" - por WILL EISNER (do livro "Quadrinhos e a Arte Seqüencial")

Em anos recentes, um novo horizonte se abriu com o surgimento da graphic novel, um forma de revista de quadrinhos, ainda em estado embrionário de desenvolvimento, que vem sendo foco de grande interesse. Os esforços com vistas a essa aplicação do meio, aleatórios e entusiásticos, ainda esbarram num público despreparado, para não falar num sistema de distribuição mal equipado, adaptado às condições de um mercado geral em que a apresentação segue padrões antiquados.
Historicamente, os quadrinhos têm se restringido a narrações breves ou a episódios de curta duração, mas movimentados. Na verdade, supunha-se que o leitor buscava nas histórias em quadrinhos informações de transmissão visual instantânea, como nas tiras de jornais, ou uma experiência visual de natureza sensorial, como nos quadrinhos fantásticos. Entre 1940 e o início da década de 1960, a indústrica aceitava, comumente, o perfil do leitor de quadrinhos como o de uma "criança de 10 anos, do interior". Um adulto ler histórias em quadrinhos era considerado sinal de pouca inteligência. As editoras não estimulavam nem apoiavam nada além disso.

As primeiras narrações em tapeçarias, frisos e hieróglifos registravam eventos ou procuram reforçar mitologias; elas falavam a um grande público. Na Idade Média, a arte seqüencial procurava narrar episódios edificantes ou histórias religiosas sem grande profundidade de discussão ou nuance, para um público que tinha pouca educação formal. Assim, a arte seqüencial desenvolveu-se até atingir a forma de uma espécie de taquigrafia, que empregava estereótipos ao se referir ao envolvimento humano. Para os leitores que desejavam temas mais refinados, narrativas mais sutis e complexas, era mais fácil aprender a ler palavras. A aplicação futura da arte seqüencial descobrirá que este é o seu maior desafio.
O futuro da graphic novel encontra-se na escolha de temas importantes e na inovação da exposição. Dado que, apesar da proliferação da tecnologia eletrónica, a página impressa manterá o seu lugar no futuro imediato, para que atrair um público mais refinada está nas mãos de artistas e escritores sérios de quadrinhos, dispostos a correr o risco do ensaio e erro. Os editores são apenas catalisadores. Não se deve esperar mais nada deles.
O futuro dessa forma aguarda participantes que acreditem realmente que a aplicação da arte seqüencial, com sen entrelaçamento de palavras e figuras, possa oferecer uma dimensão da comunicação que contribua para o corpo da literatura preocupada em examinar a experiência humana. Essa arte, então, consiste em dispor imagens e palavras, de maneira harmônica e equilibrada, dentro das limitações do veículo e em face da ambivalência do público em relação a ele.
Apesar do estilo, da apresentação, da economia de espaço e da natureza tecnológica da reprodução, os balões e os quadrinhos ainda são as ferramentas básicas de trabalho. Quanto à receptividade do público, ela deverá mudar, e certamente aumentará à medida que o produto oferecer mais e se tornar mais importante.

(Will Eisner é uma lenda das Histórias em Quadrinhos, criador de um dos mais complexos e intrigantes personagens de HQs, o herói "The Spirit". Ele também foi responsável por um ato marcante na história dos Quadrinhos: ao escrever a HQ "Um Contrato com Deus", com mais de 100 páginas, Eisner decidiu publicá-la sob o subtítulo de "Um Romance Gráfico". Pode-se dizer que Eisner revolucionou a compreensão que temos da chamada arte seqüencial. E não por menos, o maior prêmio de reconhecimento de histórias em quadrinhos leva o seu nome em homenagem, o WILL EISNER AWARD.)