terça-feira, 24 de junho de 2008

UMA INTRODUÇÃO ADEQUADA - A "Graphic Novel" - por WILL EISNER (do livro "Quadrinhos e a Arte Seqüencial")

Em anos recentes, um novo horizonte se abriu com o surgimento da graphic novel, um forma de revista de quadrinhos, ainda em estado embrionário de desenvolvimento, que vem sendo foco de grande interesse. Os esforços com vistas a essa aplicação do meio, aleatórios e entusiásticos, ainda esbarram num público despreparado, para não falar num sistema de distribuição mal equipado, adaptado às condições de um mercado geral em que a apresentação segue padrões antiquados.
Historicamente, os quadrinhos têm se restringido a narrações breves ou a episódios de curta duração, mas movimentados. Na verdade, supunha-se que o leitor buscava nas histórias em quadrinhos informações de transmissão visual instantânea, como nas tiras de jornais, ou uma experiência visual de natureza sensorial, como nos quadrinhos fantásticos. Entre 1940 e o início da década de 1960, a indústrica aceitava, comumente, o perfil do leitor de quadrinhos como o de uma "criança de 10 anos, do interior". Um adulto ler histórias em quadrinhos era considerado sinal de pouca inteligência. As editoras não estimulavam nem apoiavam nada além disso.

As primeiras narrações em tapeçarias, frisos e hieróglifos registravam eventos ou procuram reforçar mitologias; elas falavam a um grande público. Na Idade Média, a arte seqüencial procurava narrar episódios edificantes ou histórias religiosas sem grande profundidade de discussão ou nuance, para um público que tinha pouca educação formal. Assim, a arte seqüencial desenvolveu-se até atingir a forma de uma espécie de taquigrafia, que empregava estereótipos ao se referir ao envolvimento humano. Para os leitores que desejavam temas mais refinados, narrativas mais sutis e complexas, era mais fácil aprender a ler palavras. A aplicação futura da arte seqüencial descobrirá que este é o seu maior desafio.
O futuro da graphic novel encontra-se na escolha de temas importantes e na inovação da exposição. Dado que, apesar da proliferação da tecnologia eletrónica, a página impressa manterá o seu lugar no futuro imediato, para que atrair um público mais refinada está nas mãos de artistas e escritores sérios de quadrinhos, dispostos a correr o risco do ensaio e erro. Os editores são apenas catalisadores. Não se deve esperar mais nada deles.
O futuro dessa forma aguarda participantes que acreditem realmente que a aplicação da arte seqüencial, com sen entrelaçamento de palavras e figuras, possa oferecer uma dimensão da comunicação que contribua para o corpo da literatura preocupada em examinar a experiência humana. Essa arte, então, consiste em dispor imagens e palavras, de maneira harmônica e equilibrada, dentro das limitações do veículo e em face da ambivalência do público em relação a ele.
Apesar do estilo, da apresentação, da economia de espaço e da natureza tecnológica da reprodução, os balões e os quadrinhos ainda são as ferramentas básicas de trabalho. Quanto à receptividade do público, ela deverá mudar, e certamente aumentará à medida que o produto oferecer mais e se tornar mais importante.

(Will Eisner é uma lenda das Histórias em Quadrinhos, criador de um dos mais complexos e intrigantes personagens de HQs, o herói "The Spirit". Ele também foi responsável por um ato marcante na história dos Quadrinhos: ao escrever a HQ "Um Contrato com Deus", com mais de 100 páginas, Eisner decidiu publicá-la sob o subtítulo de "Um Romance Gráfico". Pode-se dizer que Eisner revolucionou a compreensão que temos da chamada arte seqüencial. E não por menos, o maior prêmio de reconhecimento de histórias em quadrinhos leva o seu nome em homenagem, o WILL EISNER AWARD.)

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